

Por que sou escritor?
Escrever é um ato de liberdade. Uma página em branco é um universo de possibilidades, um lugar de potência criativa, tão aberto quanto a mente de uma criança que começa a perceber o mundo. A imaginação me leva a lugares fantásticos, onde se revelam personagens e histórias que tornam minha vida mais rica, mesmo que existam apenas na ficção.
Sinto alegria ao escrever, não só quando vejo a obra completa, mas ao longo do processo: como diz a sabedoria popular, a jornada é mais importante que o destino final. E que emoções um escritor vive na jornada de escrever um livro?
Primeiro vem a aventura: ora, me sinto um menino mais uma vez! O começo de um livro não é muito diferente de uma folha em branco para desenhar ou de um conjunto de blocos de montar: é o tipo de experiência que envolve a alma, o coração, o espírito. Ao fazer um desenho, ao criar um mundo de brinquedos, ao contar uma história podemos colocar um pouquinho de nós naquela obra em construção.
Depois vem o autoconhecimento: a cada escolha de palavras, a cada traço ou cor do quadro que pintamos, a cada forma a que damos vida descobrimos uma face nova da nossa própria essência. Também aprendemos a reconhecer uma sensibilidade muito pessoal, uma forma de sentir o mundo.
E assim os personagens ganham vida, mundos mágicos inteiros são criados em nossa mente, histórias de amor e coragem, amizade e empatia ganham começo, meio e fim (será que uma obra literária realmente tem um fim?).
Sou escritor porque gosto de fabricar sonhos, gosto de me conectar com a apreciação da vida, do encanto, da alegria, da esperança. Foi esse o caminho que me levou à arte das letras. Mas as sombras também ajudam a compor a luz. A tristeza, os medos, as perdas fazem parte da criação literária, como fazem parte da vida. Elas podem receber maior ou menor espaço na história, mas sempre estão lá, de alguma forma.
Escrever é uma forma de entender o mundo exterior e o mundo interior. É uma forma de dar significado a esses dois mundos e aprender alguma coisa no caminho entre eles. É também uma forma de fazer poesia, como o desenho e a pintura, o artesanato, a dança, a culinária — todas elas poesias, dentro ou fora do papel. Escrever é uma forma de fazer carinho no mundo.
Tulio Ferneda