

Pessoas e personagens
Os personagens são o motor de uma história. Suas origens, conflitos, sonhos e esperanças fazem o enredo acontecer. Nas minhas aventuras escrevendo fantasia, aprendi uma lição valiosa: primeiro vêm os personagens; depois o mundo inteiro se constrói, como uma ponte, para que eles o atravessem.
Criar um personagem é uma das coisas mais importantes do trabalho literário. Deve ser feito com carinho, com tempo e cuidado. Um desenhista raramente faz do primeiro esboço sua obra final: ele explora os contornos, vai conhecendo as nuances daquela figura, até se familiarizar com ela, até conhecer um pouco mais da sua essência. Ah sim, quando aparece a essência o personagem ganhou vida! Quando ele ganha vida, começa a falar com você, te dizer o que faria e o que não faria, o que diria, como e quando. É só deixar fluir, deixar o personagem ser quem ele é.
Nesse processo de criação, pode haver inspiração nas pessoas que você conhece ou observa na vida real. Você já parou para observar a sutileza da presença de cada pessoa? O jeito de andar, de falar, de se expressar pelo gesto ou pelo silêncio. Algumas pessoas entram no recinto e são como a primavera chegando. Outras podem ser um castelo de gelo, escondendo algo (mas que no fundo, geralmente, só querem brincar de bolas de neve). E assim, o escritor deve ser observador, como o fotógrafo: capturar momentos é parte da graça do ofício.
Uma jovem observando o céu, as nuvens e o pôr do sol; um menino que abraça a vida agindo pelo impulso, dizendo mais pela ação do que pela palavra; um velho sábio que quase nunca fala, mas quando fala é ouvido e respeitado; uma senhora que sorri para a vida, deixando luz por onde passa. E assim as pessoas da vida têm dessas coisas, dessas nuances, que são ingredientes para o caldeirão da criação de um personagem.
E não precisa de muitos detalhes. Você pode contar uma história, por exemplo, oferecendo ao leitor quase nada de descrição física dos personagens. Apenas um ou dois detalhes (os mais importantes) e a imaginação completa o resto, como deve ser. Também não precisa de longas e elaboradas reflexões psicológicas, detalhando a cada página o que um personagem pensou ou sentiu. Às vezes, uma fala ou ação já basta para mostrar quem é quem na história. A simplicidade é a melhor aliada do escritor.
Sem grandes pretensões, com carinho e cuidado (e um pouco de sorte), você pode criar personagens que ganham vida e acabam sendo cativantes na simplicidade. É como fazer um desenho de um sorriso: ele acaba sorrindo de volta pra você.
Tulio Ferneda